O Impacto da Reforma Tributária nas Empresas

Análise Técnica dos Impactos nas Empresas e a Necessidade de Preparação Estratégica

Léo Wenoli

6/21/20254 min read

A Reforma Tributária aprovada no Brasil representa uma mudança estrutural profunda na forma como as empresas brasileiras lidam com tributos. Depois de décadas operando sob um sistema complexo, fragmentado e muitas vezes contraditório, o país inicia a transição para um modelo inspirado em boas práticas internacionais de tributação sobre o consumo. Entretanto, a transição não será simples, e o impacto nas empresas é profundo e multifacetado.

Neste artigo, analisaremos os principais pontos da reforma, seus impactos diretos e indiretos, e por que as empresas — especialmente contadores, CFOs e gestores — devem iniciar imediatamente o processo de análise e adaptação.

1️⃣ Estrutura Geral da Reforma

A espinha dorsal da reforma se baseia na substituição de cinco tributos atuais por dois grandes tributos sobre o consumo:

Tributos ExtintosNovos TributosPISCBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) - federalCOFINSIPIICMSIBS (Imposto sobre Bens e Serviços) - estadual e municipalISS

Essa unificação objetiva:

  • Simplificação da apuração tributária

  • Redução da cumulatividade

  • Maior transparência na carga tributária

  • Neutralidade econômica entre setores e empresas

2️⃣ Os Impactos Diretos nas Empresas
a) Crédito Amplo e Não Cumulatividade Plena

O novo sistema permitirá que as empresas aproveitem créditos tributários de forma ampla, independentemente da etapa da cadeia ou da natureza da aquisição, eliminando discussões complexas sobre "insumos" e gerando efeitos relevantes na formação de preços e margens.

Ponto de atenção técnico:

  • As empresas precisarão revisar rigorosamente seus sistemas de apuração de crédito.

  • Empresas de serviços, tradicionalmente mais afetadas pela cumulatividade, tendem a ter redução de carga.

  • Indústrias e comércios que já se aproveitavam de créditos, verão menos variação na carga, mas maior simplicidade operacional.

b) Alteração de Alíquotas

Embora o sistema seja simplificado, a alíquota padrão total (CBS + IBS) ainda não foi definida com exatidão, mas as estimativas indicam algo em torno de 25% a 27% na carga consolidada, o que pode ser maior que a atual para alguns setores.

Riscos potenciais:

  • Setores de mão de obra intensiva podem sofrer aumento de carga.

  • Setores exportadores terão regras específicas de ressarcimento.

  • Empresas do Simples Nacional devem avaliar impactos indiretos, principalmente na cadeia de fornecimento.

c) Nova Logística Operacional e Fiscal

O IBS e a CBS terão regras de competência distintas das atuais:

  • O imposto será devido no destino (local de consumo), o que impactará operações interestaduais.

  • Haverá uniformização de alíquotas entre estados e municípios, reduzindo a guerra fiscal.

  • Apuração centralizada e digital, com geração automática de créditos e débitos.

Exigirá:

  • Revisão completa dos ERPs e softwares fiscais.

  • Adequação de cadastros fiscais e códigos de mercadorias e serviços.

  • Treinamento aprofundado das equipes fiscais e contábeis.

3️⃣ Impactos Indiretos Estratégicos

Além da apuração tributária direta, a reforma trará efeitos estratégicos importantes:

a) Cadeia de Fornecimento
  • Fornecedores com alta carga tributária poderão perder competitividade.

  • Empresas precisarão revisar a viabilidade econômica de cada elo de sua cadeia de produção e distribuição.

b) Revisão de Contratos
  • Contratos comerciais com cláusulas de preços brutos (com impostos incluídos) precisarão ser revisados.

  • Modelos de precificação para o consumidor final exigirão simulações detalhadas.

c) Gestão do Fluxo de Caixa
  • Com a ampliação do crédito, muitas empresas terão novos prazos de ressarcimento.

  • Necessário replanejamento de capital de giro e financiamento de operações.

d) Governança Tributária e Compliance
  • A nova sistemática exige controle rigoroso e integração de informações.

  • Eventuais erros de apuração terão forte impacto financeiro, dado o volume envolvido.

4️⃣ Por Que se Preparar Desde Já?

Embora a implementação completa só ocorra de forma definitiva a partir de 2033, a fase de transição inicia já em 2026. As empresas que se anteciparem estarão em melhores condições de:

  • Avaliar impactos de forma preventiva e evitar surpresas negativas.

  • Ajustar contratos, preços e estratégias comerciais com segurança jurídica.

  • Adaptar sistemas de TI, com tempo hábil e menor custo.

  • Qualificar equipes internas para lidar com a nova realidade fiscal.

Vale destacar:
A complexidade não desaparece, ela apenas muda de natureza. No modelo atual, a complexidade está na interpretação das normas; no modelo novo, a complexidade será eminentemente operacional e tecnológica.

5️⃣ Próximos Passos Recomendados
  • 📊 Simulações tributárias setoriais com diferentes cenários de alíquotas.

  • 🧑‍💻 Mapeamento de processos fiscais e contábeis internos.

  • Plano de modernização de sistemas e ERPs com suporte para IBS e CBS.

  • 👩‍🎓 Capacitação contínua das equipes fiscais e contábeis.

  • 🤝 Consulta a especialistas (advogados tributaristas, consultores fiscais e TI) para definir o plano de transição.

Conclusão

A Reforma Tributária é uma mudança histórica que remodelará profundamente o sistema de negócios no Brasil. Para as empresas, ela representa tanto riscos quanto oportunidades. Empresas que tratarem a reforma como um projeto estratégico de longo prazo, e não apenas como uma obrigação fiscal, sairão na frente — com maior competitividade, eficiência operacional e segurança jurídica.

Em um ambiente tributário em transformação, a preparação é o maior ativo de uma empresa.

Léo Wenóli - CMO PriceTax

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